quarta-feira, 7 de dezembro de 2016




Palestra ministrada por Mestre Cláudio Danadinho, em 11/11/2000 em um Festival Nacional de Capoeira em Brasília, Teatro Conchita de Moraes, Conic.




           ARQUITETURA E CAPOEIRA

A analogia
     Parecem existir princípios que não poderiam ser comparados entre outras áreas do conhecimento, ofícios e artes.
     A Arquitetura é ensinada entre as Ciências Humanas na UNB, entre Ciências Exatas na USP e entre as Belas Artes na UFRJ. A Capoeira vem sendo praticada em centros culturais e de artes, em “academias” de lutas, ou em ambientes esportivos. Mesmo com objetivos distintos a essência preserva suas identidades. A essência diz respeito aos elementos fundamentais que as constituem.
     São de outra natureza. Por exemplo, a Odontologia, uma Ciência da Saúde, cuja racionalidade está presente nas restaurações, em materiais e elementos como pivôs, pontes, e cimentos; na funcionalidade do mastigar ou na estética das cores e formas dos dentes.
     A Arquitetura e a odontologia são dois ofícios com procedimentos práticos que se assemelham.
     Entre a Arquitetura e a Capoeira, aparentemente tão díspares, parece haver fundamentalidades análogas.
     Funcionalidade, racionalidade e estética são essências constitutivas da “síntese vitruviana” na Arquitetura e tão respectivamente equivalentes a jogo, luta e dança na Capoeira, quanto inseparáveis nas unidades conceituais que as definem. Separá-las seria como desagregar o complexo cultural sistêmico, atentando contra a identidade essencial que as distingue pelo conteúdo de suas globalidades.
     Assim, de uma instalação que se manifeste pela essência parcial, não se espera valor arquitetônico. Por exemplo: o justo atendimento a uma necessidade social exprime-se pela funcionalidade, como muitas soluções de habitação social; ou quando se destaca pela tecnologia da engenharia aplicada, demonstrando sua racionalidade em muitos galpões industriais e pontes; ou ainda quando revela beleza, surgindo como manifestação estética: as esculturas, a cenografia ou a decoração, algumas vezes revelando valor como obra de arte. Mesmo sendo realizações com atributos essenciais, não serão necessariamente reconhecidas como obras arquiteturais.
     Em campeonatos, lutando ao som do berimbau e com golpes de Capoeira, o sistema de contagem de pontos pode descaracterizar sua identidade; o mesmo acontece com as marcações coreográficas, universalizando a estética, em combinações e atitudes como na “Capoeira do amor”. Os “passos” estilizados guardam a lembrança da Capoeira. Mas mesmo o “jogo do dinheiro”, como exercício, também reduz a estratégia da Capoeira praticada integralmente.
     As conceituações, jogo, luta, dança, ou funcional, racional, estética, trindades constitutivas das duas unidades globais, coexistem essencialmente de forma simultânea, tanto na Capoeira como na Arquitetura. São os elementos da unidade essencial de cada uma e parecem exprimir a analogia fundamental que se quer aludir.
     Há na Arquitetura outra questão primordial como aquela unidade essencial, que a distingue de forma específica em relação às práticas comumente comparadas à Capoeira, notadamente as artes marciais, convertidas em competições esportivas.
     Trata-se da dualidade espaço-tempo aparentemente evidente na Arquitetura pelo “grau de permanência” das obras e pela história da construção existencial da morada humana. E isto, em dimensão e transcendência. A Capoeira vive a originalidade que a distingue embora venha pretendendo evoluir sistematizações diversas, como se estivesse completando um amadurecimento. Como se não estivesse pronta, desenvolve expectativas de tornar-se esporte olímpico, institucionalizar-se através de regulamentações federativas ou ainda tornar-se disciplina de ensino superior. Entre outras expectativas.

O Espaço

A prática da Capoeira, nas garagens, “academias”, salões, ginásios ou pilotis, podendo ser em qualquer lugar, tornou-a relativamente mais rara nas ruas, nas esquinas e nos mercados; onde antes se cultivava a mandinga e a picardia, tornou-se mais rara do que quando era proibida.
     A representação do círculo pintado no chão é uma sintetização espacial redutiva: é a supressão do povo em volta, estabelecendo a noção de distância comedida e que era também o júri, sem julgar necessariamente um vencedor e um derrotado. Era a ”parede” delimitando, com o calor da plateia popular, o espaço da vadiagem. Ou da vadiação, como era a roda de Waldemar e Traíra no Bairro da Liberdade na esquina do Mercado Agnelo, em Salvador, Bahia. Os populares torciam e configuravam o lugar que a condição contemporânea pretende evoluir.
     Pintada no chão é o simulacro de um complexo cultural. Simulacro de sua cosmogonia.
     Não havendo nenhum que seja exclusivamente o seu, o espaço da Capoeira ainda é qualquer lugar.

O Tempo

     O tempo – cadência, ritmo e duração – como conceito pelo qual a Capoeira deve ser compreendida na sua identidade, é tributário da existência factual na mídia e dos eventos decorrentes de sua comercialização: a hora-aula, o espetáculo contratado e os batizados de alunos às centenas. A massificação! Agora a Capoeira depende da circunstância em que se apresenta; a transformação é a do tempo, que antes era aberto, determinado pelos dois – jogadores, gladiadores, bailarinos – capoeiras. A estratégia era, portanto, outra, diferente dos “rounds”, das competições esportivas e de diversas práticas diferentes da Capoeira ou da própria vida, quando o tempo não é combinado de antemão. A característica fundamental consistia justamente em não haver, por princípio, tempo definido para a Volta do Mundo.

As Transcedência

     O tempo perdeu o sentido e o espaço ganhou outro.
     Mas o “grande mestre é o Mestre Tempo e a grande roda é a Roda da Vida”, nas palavras de Pombo de Ouro, mestre na simplicidade, elegância e sabedoria capoeira.
     As afinidades entre a Capoeira e a Arquitetura parecem com as evoluções espaço-temporais da civilização brasileira em formação. São manifestações simultaneamente populares e eruditas, elaborações transcendentes desta nação nova onde misturaram-se povos tão antigos.
     A aproximação destas práticas diferentes, considerando as tríades elementares de seus sistemas conceituais, parecem refletir o complexo cultural maior no qual estão envolvidos.
     Esta analogia pode remeter a outras relações que, na perspectiva simbólica, referenciam diversas existências do mesmo universo cultural, notadamente certos arquétipos como a rede, as velas das jangadas e as tradicionais baianas vestidas de branco, vivas na memória do inconsciente coletivo e presentes, por exemplo, na herança sintetizada em Brasília, como nas colunas dos seus palácios.
     Da mesma forma o clima do país com sua geografia harmoniosa, rica, monótona ou suave; as cidades extensivas em granulações concentradas ou dispersas de um urbanismo delicado, rarefeito ou altivo. Feitas de planos, de ladeiras e de curvas, em horizontes amplos ou condicionados, sempre refletindo a circunstância natural, desde a arquitetura colonial primaz. Rendida rapidamente à colonial brasileira, caracteriza-se pela generosidade do espaço e a ausência de adornos, nos termos de Buarque de Holanda em seu clássico Raízes do Brasil. Precocemente atingiu o estatuto moderno, como Arquitetura Brasileira, uma das raras áreas que superou a dependência cultural, “assentada no concerto internacional de ideias” – como relatava o Prof. Edgar Graeff (UNB) com as palavras do prof. Antônio Cândido (USP) -, marcada pelo lirismo, pela leveza dos conjuntos construídos e pela poesia dos prédios públicos. Como raras no mundo, a população festeja em cima da cobertura do Congresso Nacional sua natureza incomum: a praça sobre o palácio, representação maior do poder popular na República!
     A Capoeira pelo mundo organizada como em “franchises” da Patagônia à Finlândia é cantada e jogada em “língua brasileira”! Uma afirmação cultural através da mais genuína expressão de resistência.
     As cidades nascidas “Ex Nihilo”, onde antes existia a natureza, foram constituindo-se em gestos simbólicos, como em Brasília, “concisa e derramada” nos termos de Lucio Costa no Memorial do Plano Piloto. O “Minhocão” da UNB e as Asas de Brasília, como as redes nativas, se repetem fractais. Fractais como o triângulo do “gesto primário” de Lucio Costa, delimitando virtualmente o projeto e reaparecendo fundido em pedra, na Torre: três ângulos apoiando a estrutura de aço com três pilares principais, constituídos, cada um, em sistemas de três tubos. Trilógico!
     A Capoeira aconselhava – pelo saber popular transformado em regra rudimentar – três apoios, utilizando pernas, braços e cabeças. Faz lembrar os três apoios otimizados das colunas do Alvorada, do Planalto e do Judiciário, multiplicando as tríades. Funcionais, racionais e estéticas.
     Três apoios – facultativos na meia lua de compasso, dois obrigatórios no rabo de arraia e uma só perna na armada arriscada – descrevendo arcos românticos. Cúpulas invertidas dos trópicos, das grandes baías. Copacabanas, rasteiras traçadas na paisagem... e as velas navegantes como os “S dobrado” ao vento. Jogo, dança e luta.
     Cores fortes da Índia, o negro e o branco muito branco no meio da terra. Mediterrâneas! Galopantes de mãos soltas, palmada como aquela clara e sombria protegendo o Museu do Índio: elipses arqueadas e concordâncias retas; ações diretas em tensões duplas nas torres do Congresso: bênçãos de empurrar, ou saltadas de bater.
     Universais e contextuais. Inéditas, observam à distância sem perder o ritmo – escala e proporção -, surpreendentes como a civilização brasileira. A Capoeira e a Arquitetura.




Cláudio Queiroz
Danadinho, nome de guerra.
Foi iniciado mestre pela ausência de Mestre Arraia, ensinando a rapazes e moças no Colégio Elefante Branco e no CIEM, em Brasília, antes do “Berimbau de Ouro” 1968; participou da criação do Grupo Senzala com outros amigos – Rafael, Fernando, Gato, Itamar, Gil, Tabosa, Peixinho, Borracha, Mosquito, Garrincha, Sorriso, Jimmy, Antero, Macaco, Paulo e Gilberto Flores e Adilson.
É professor do Departamento de Projeto, Expressão e Representação em arquitetura e urbanismo, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UNB. Trabalhou com Oscar Niemayer em Argel na Argélia.



segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Aldenor Benjamim- Mestre Arraia, pioneiro da capoeira brasiliense


Falar e ouvir falar de pioneirismo e pioneiros em Brasília é algo comum. Cidade nova que foi planejada, calculada e construída em pleno cerrado do Planalto Central brasileiro, exigiu para essa empreitada muita coragem, suor e lágrimas de homens e mulheres que deixaram suas terras e famílias em busca do sonho do eldorado desconhecido.




Mesmo aqueles já acostumados ao clima árido, como do Sertão Nordestino, devem ter sentido a rigidez da poeira vermelha. Para os que vieram do litoral a luta era ainda maior.

Brasília nos primeiros anos era isso: misto de um sonho romântico pós-moderno de Juscelino e Niemeyer ao som de “Água de beber camará” nos apartamentos das asas sul e norte; e a dura realidade da terra de árvores retorcidas pela secura, no arrasta pé em chão de terra batida, no compasso de Asa Branca de Gonzagão nas noites da Cidade Livre; era a distância entre o “novo mundo” e a civilização.

Nos anos seguintes à inauguração da nova capital, muitos ainda continuavam chegando vindos de toda parte do Brasil. Eram tempos de Bossa Nova, de Guerra Fria, de descobrimentos e experiências que mudariam o mundo.

Por volta de 1964, vindo de Salvador, Aldenor Carvalho Benjamim, diferentemente dos que vinham em busca do sonho, se refugiou na cidade por conta de seu engajamento no movimento estudantil de Salvador, em resistência ao regime militar que havia se instaurado no país. Consciência política essa que começou a adquirir quando ingressou no curso de História da Universidade Federal da Bahia. Seu pai Amarílio Benjamim, que chegou anos antes para assumir o cargo de Ministro do Tribunal Federal de Recursos, achou prudente trazê-lo para Brasília.



O contraste de percepções ao chegar à Capital: respirar o ar seco já na abertura da porta do avião; o impacto visual ao olhar para os quatro lados e ver horizontes e planaltos distantes; se deparar com prédios deitados, vias largas e espaços de sobra na chegada pelo final da Asa Sul. Brasília, em quem vê e sente pela primeira vez, causa sensações diversas; ou apaixona-se ou a odeia; não há possibilidade de indiferença ante o diferente de tudo.

Aldenor era natural de Jacobina/BA, mas passou a maior parte de sua infância e adolescência em Salvador. Ao aportar por aqui, trouxe na bagagem a cultura popular que viu ouviu e viveu nas ruas da capital baiana. Sorte dos que o conheceram e receberam do seu conhecimento!

Na matula do jovem baiano veio a Capoeira, arte que aprendeu com seu vizinho em Salvador, Ubirajara Guimarães Almeida, o Mestre Acordeom, aluno do famoso Mestre Bimba, criador da Capoeira Regional.

Jovem que gostava do convívio com o popular, nos primeiros dias na nova cidade deve ter andado por aí, expandindo horizontes, buscado informações, fazendo amizades e ocupando espaços. 

Logo estaria dando aulas de Capoeira no pilotis do bloco onde morava, bloco A da Superquadra 206 Sul. Quadra que pelos anos manteve a tradição da Capoeira, onde muitos capoeiristas surgiram (hoje quem mantém a tradição é o professor Neno que dá aulas na escola Classe 206 Sul). Muitos passaram nos treinos debaixo do bloco do Arraia.

Aldenor logo marcou uma apresentação de Capoeira para os alunos do colégio Elefante Branco, onde cursava o 2° ano. Entre os que assistiram estava o jovem do 1° ano, Hélio Tabosa, que diz ter ficado tão impressionado com a precisão dos golpes daquele baiano, que logo matriculou-se nas aulas de capoeira - um dos primeiro alunos de Mestre Arraia. Muitos treinaram capoeira com Arraia no Elefante Branco: Claudio Danadinho, Fritz, Barto, dentre outros.



Dizem que era excelente tocador de berimbau, e por onde andava levava o instrumento à tira colo. Desfilou no 7 de setembro - tocava berimbau enquanto seus alunos jogavam.

Cursou Direito no CEUB.



Claudio Danadinho diz que Aldenor era amigo pessoal de Honestino Guimarães, líder estudantil e desaparecido político na luta contra a ditadura militar. Luta essa que afastou Aldenor de Brasília. Foi embora às pressas fugindo da repressão política.

Na volta a Salvador teve contato com a Capoeira Angola de Mestre Pastinha.

Anos depois Aldenor retornou a Brasília. Na quadra 206 conheceu sua primeira esposa com quem teve dois filhos.


Na década de 80, por responsabilidades familiares e problemas de saúde, não participava ativamente da capoeira, mas seu coração permaneceu conectado com sua Arte-Mandinga. Ainda nessa década, volta a Salvador após separação. No início dos anos 90 conhece sua segunda esposa.

Aldenor faleceu no dia 14 de janeiro de 2005 em Porto Seguro/BA.

Jovem rebelde, intelectual erudito, artista, pai, esposo e Mestre da Cultura Popular, são alguns dos adjetivos que cabem a Aldenor Carvalho Benjamim, o Mestre Arraia. Difícil mensurar sua importância na história cultural de Brasília.

Ao ser pioneiro no ensino da arte capoeira e ser transmissor de conhecimentos, Mestre Arraia deve ser reconhecido por capoeiristas nas rodas da vida. Alunos ou não, os primeiros capoeiristas de Brasília, todos tiveram a influência de Arraia: Tabosa, Fritz, Barto, Cláudio Danadinho; Adilson, Gilvan, Paulão, Zulu, Pombo de Ouro; das gerações seguintes: Esquisito, Kall, Luiz Renato, Roberto Negão, Ralil, Jomar, Oscar, Amendoim e outros mais.

Hoje Brasília respira Capoeira; crianças, jovens e velhos partilham o jogo em praças, clubes, academias, quadras de esporte, centros sociais e até em órgãos públicos. E a Capoeira de Brasília está no mundo. Mestres e professores saídos daqui estão em todos os continentes ensinando a Arte brasileira: Canadá, EUA, México, Colômbia, Alemanha, Portugal, Espanha, França, Suécia, Áustria, Noruega, Finlândia, Filipinas, Malásia, Austrália, Angola...

Em 2010 a Câmara Legislativa do DF concedeu o título de cidadão honorário de Brasília a Aldenor Benjamim (post mortem), a Hélio Tabosa (Mestre Tabosa), Alfredo Eustáqui Pinto (Mestre Fritz) e a Cláudio José Pinheiro Villar de Queiroz (Mestre Cláudio danadinho).

Que Mestre Arraia seja lembrado onde um capoeirista brasiliense jogar ou tocar um berimbau. Como diz uma música: ...que Deus o tenha em um bom lugar!




Vinícius Campos (Topo)

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

3 de Agosto, dia da Capoeira.

Parabéns a todos os praticantes, amantes e admiradores da arte-luta-brincadeira.




quinta-feira, 28 de julho de 2016




Saudade de um Camará

Música “Saudade de um camará” de Mestre Capu do grupo Gingado Capoeira. Cd gravado em Barcelona 2014.

Mestre Capu, um nato “Cavalo doido do cerrado” saiu do Cruzeiro Velho em Brasília e há seis anos ganhou o mundo. Reside em Barcelona na Espanha onde desenvolve um trabalho de capoeira supervisionado por Mestre Pablo.





quinta-feira, 21 de julho de 2016

A capoeira está de luto. Faleceu Mestre Ananias .

Uma pequena homenagem ao grande Mestre.





Mestre Ananias na Roda do Cais do Valongo, Rio de Janeiro.





quinta-feira, 14 de julho de 2016


Deixa o menino jogar –Nativus (Natiruts)

De brincadeira despretensiosa entre Alexandre e seu amigo Juninho, em 1994 fazendo som em encontros casuais, surge a primeira chama do que seria a banda brasiliense Nativus, ou Natiruts.
A banda só é formada mesmo em 1995/96 com a chegada de Luís, Bruno, Kiko e Izabela.
Em 1996 já rolava pela cidade uma fita demo gravada pelo grupo com apenas sete composições: (Liberdade pra dentro da cabeça, Casulo, Presente de um beija flor, Deixa o menino jogar, Dialetos da paz, Surfista do Lago Paranoá e Adeus mamãezinha). O reggae roots dos Nativus logo conquistou a rapaziada de BSB.
Em 1997 gravam o primeiro álbum no Rio de Janeiro. No mesmo ano, em pleno inverno brasiliense a banda faz um show histórico na Ermida Dom Bosco. Daí o som dos Nativus explode e vai conquistar o Brasil.


Clip da música “Deixa o menino jogar” composta por Alexandre Carlo.
Alexandre Carlo-voz e guitarra; Izabela-backing vocals; Kiko-guitarra solo; Luís Maurício-baixo e back vocals; Juninho-bateria e Bruno-percussão e back vocals.
Clip com participação especial do saudoso capoeirista da Vila Planalto” Esquilo da Abadá Capoeira”, que na época dava seu show de capoeira nas apresentações do Nativus pela cidade.






quinta-feira, 7 de julho de 2016

O Primeiro Arrepio da Capoeira Ninguém Esquece!


CRÔNICA POR MESTRE SKISITO

Jornal Infocapoeira Agosto de 2000


Seis de dezembro de 1974, sexta-feira, Academia Tabosa, quadra 505 Sul, sete da noite. Subo as escadas apressado com o coração disparado: era meu batismo de capoeira!
Mal consigo chegar ao vestiário e colocar a malha branca, novinha, colada no corpo que era o último modelo de uniforme lançado na Academia Tabosa. O ruído das pessoas, muitos mestres, muitos estranhos, um frio perpassa a barriga: é hoje! Troco atropeladamente a roupa e corro para o salão da academia, pois o Mestre já anuncia o começo da festa.
Todos se organizam em volta da roda. Parece que não cabe todo mundo e mesmo assim as pessoas se ajeitam e encontram uma maneira de ficarem o mais próximo possível. Berimbaus, pandeiros, atabaques, começam a orquestrar um ritmo afinado, produto de um ensaio que ninguém fez!
Yyêêêhhhhhhhhh!!!!!!! – Grita o Mestre Tabosa.
Aquele grito corta o ar e o tempo e transporta a todos para uma viagem mântrica através da História e reconta todas as agruras que já atormentaram a humanidade. É um grito de dor, contra a dor! A favor da liberdade, contra a escravidão! Exigia o fim do cativeiro, anunciava a festa! Exorcizava todas as diferenças, exigia a igualdade! Respeitava a morte, mas anunciava a vida! Fluía origem era o corpo, mas sua gênese era a Alma!
E o Mestre Tabosa solta a voz e começa a cantar: Ô luanda êh, pandêro! Luana êh Pará… E um coro de cem vozes responde: olêlê!!!!!!
E veio o meu arrepio, o meu primeiro arrepio de capoeira! Uma energia tão grande que os olhos se iluminaram de emoção, o coração disparou mais que o atabaque; a pele fez-se o corpo todo que pareceu expandir, inflado pela emoção e pelo axé!
Aquele eco ainda hoje percorre o meu coração e minha alma… Aquelas pessoas, a maioria pelo menos, não mais se encontram nessa Roda da Capoeira, estão por aí, na Roda da Vida, jogando a sua sobrevivência! Mas, dentro delas, na dimensão transcendental e atemporal do seu Espírito, cada uma guarda aquele eco, aquele grito, aquela roda!
Os Mestres que ali estavam são hoje parte daquele eco.
Meu Padrinho de Capoeira, Mestre Tonhão, onde quer que ele esteja, é hoje parte inseparável da minha vida na Capoeira!
A ele, e a todos os Mestres que estiveram presentes naquele momento, gostaria de poder entregar um prêmio inusitado: aqui está Mestre, o meu orgulho humilde de ter sobrevivido a todos os desvarios, percalços e barreiras que a estrada da vida me aprontou até agora e ter permanecido nessa roda de capoeira! Esse é o troféu mais significativo que posso lhe dar, a minha própria História, contada a partir de sua referência, do seu exemplo e do que você mostrou quando esteve presente naquele momento e que construiu adicionando sua energia àquela roda, àquele batismo, àquele grito, àquele arrepio! Naquele momento, você estava construindo a História da Capoeira, da capoeira de Brasília, do Brasil e do mundo! Você, Tonhão, Tarzan, Melquiades, Tranqueira, Sansão, Clodoaldo, Clodomir, Gil, Pombo de Ouro, Russo, Louro, Arraia, Monera, Adilson, Onça Tigre, Bertinho, Chibata, Vieira, Danadinho, Angoleiro, Fritz, Nenê, Beto, Jacinto, Cordeiro, Cabeludo, Periquito, Gavião, Leoná, Carlindo, Diabo-Louro, Futica, Cascavel, Rui, Alcides, e particularmente a Você, Mestre Tabosa, meu Mestre na Capoeira, e tantos outros, enfim, todos aqueles que fazem essa História, escrita a cada dia no labor dessa grande roda da vida, ao sabor dessa maravilhosa energia, que vem sendo reconstituída em cada um desses que fazem a passagem do bastão para a continuidade da História, da Capoeira, da nossa própria vida! A eles essa homenagem quer chegar, a todos eles!

Texto gentilmente cedido por Mestre Skisito.
Publicado inicialmente no jornal Infocapoeira – Cia Terreiro do Brasil em Agosto de 2000.

Mais textos do Mestre Skisito em http://filosofianacapoeira.blogspot.com.br/

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Academia Tabosa do Terceiro Milênio - O Evento do Ano de 2016 - Imperdível!

Mestre Tabosa tem o prazer de convocar Alunos e Capoeiristas de todos os Grupos para o evento "Academia Tabosa do TerceiroMilênio" que será realizado no dia 18 de Agosto de 2016, às 18h, no Colégio Elefante Branco - Brasília.

O evento será dividido em três importantes módulos que vão acontecer simultaneamente:
  • A "Papoeira" para debater assuntos sobre a Capoeira;
  • O "Aulão" comandado pelo Mestre Tabosa, para treinar a ginga e outros movimentos da capoeira e
  • A "Grande Roda de Confraternização" para todos os capoeiristas inscritos.
Para participar, preencha o formulário elaborado exclusivamente para o evento,clicando na logo da Academia Tabosa.

O formulário de inscrição está aberto para alunoscamaradas da capoeira e amigos da academia (não capoeiristas).

Contamos com a presença de todos. Imperdível!

https://docs.google.com/forms/d/1YpXviykjif7Oo_bd0hcsgg2RsXSCoqlJ-ZaqObX6XKU/viewform?c=0&w=1

Juntos faremos um grande encontro de Capoeiristas.
Compartilhe esta ideia!

Fizemos alguns ajustes para facilitar o 
cadastramento no formulário. 
Obrigada pelo retorno!

segunda-feira, 27 de junho de 2016







Diálogos Filosóficos: Educação, aprendizado e crescimento na Capoeira 

Novo livro do Mestre Squisito




Mestre Squisito acaba de lançar o livro "Diálogos Filosóficos - Educaçao, aprendizado e crescimento na Capoeira", onde partilha importantes reflexões sobre questões de nossa Capoeira, seja sob sua perspectiva de Arte, Luta, Educação que promove, aspectos sociais e culturais e muito mais!
O livro tem apresentações do Mestre Tabosa, Mestre Angoleiro (J.Bamberg) e do Mestre Luiz Renato. No decorrer deste diálogo são citados os mais importantes representantes dessa verdadeira escola de cidadania que é a nossa Arte.



"Aqui não se trata apenas de mais um livro de Capoeira: trata-se de dois filósofos contemporâneos a pensar Capoeira! A Capoeira tem que se alimentar mais dessa faceta do jogo, que com certeza o enriquece em muito, e por esse resultado positivo seremos sempre gratos. A essência do conhecimento acontece, muitas vezes, numa simples troca de experiência entre duas pessoas como a dos protagonistas deste livro, que demonstram também conhecimento acadêmico". 
Mestre Tabosa 

"Recebo essa ‘chamada ao pé do birimbáu’, por parte desse Irmão da Roda e da Vida, o Mestre Squisito, Reginaldo Silveira Costa, para ‘entrar no meio do jogo’, dele e do Professor Filósofo, Dolf van der Schoot... Camarás habilitados e rápidos de pensamento encetam, quase ‘travam’ um salutar embate/encontro a respeito da nossa querida Arte Capoeirana (...) Assim, digo ao Leitor que jogue o jogo, ’entre na manha’ e com eles aprenda e participe, se deliciem nessa roda intelectual interessantíssima a propósito da nossa Capoeira, Sabedoria popular do Brasil, imensa e versátil, hoje esparramada mundo a fora, aqui, por eles tão bem discutida em exercício dialogal tão rico e bem tramado, muitíssimo bem jogado". 
Mestre Angoleiro 

"Diálogos Filosóficos – Educação, aprendizado e crescimento na capoeira, elaborado pelo Mestre Squisito, em co-autoria com Dolf van der Schoot, conhecido como Professor Filósofo, é um livro de muitos méritos. Eu até diria mais do que isso. É um livro necessário. Estamos em um momento de inflexão na história da capoeira. Ao mesmo tempo em que o Estado volta seus olhos para a nossa luta e dá partida em uma série de processos (aos trancos e barrancos, é verdade!) de reconhecimento e valorização desse patrimônio, a comunidade da capoeira é chamada a refletir sobre suas formas de organização, suas práticas e seus valores. Talvez seja exatamente esse o ponto em que se encontra a maior relevância desses Diálogos Filosóficos: a contribuição que traz para a necessária e urgente autocrítica da comunidade de mestres, professores, pesquisadores e praticantes da capoeira". 
Mestre Luiz Renato

O livro pode ser adquirido pelos canais abaixo:
por email: 
Mestre Squisito - skisyto@gmail.com
por telefone/whatsup: 55 61 996566710
Na Europa: Professor Filósofo - capofilosofo@gmail.com
portelefone/whatsup: 33 7 68 49 62 05 ou 351 967 041 938
ou nos sites:
Amazon.com ou no www.Bubok.pt

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Música “Pra vida inteira” de Mestre Fantasma


Alessandro Coqueiro o Mestre Fantasma é um grande compositor e capoeirista brasiliense. Faz parte da Escola Brasileira de Capoeira.
Em 2004 colocou a mochila nas costas e rumou da 115 Sul para a Ásia. Desembarcou em Manila nas Filipinas para mostrar a Capoeira brasiliense. Nesse tempo constituiu família e desenvolveu um ótimo trabalho como professor de capoeira. No ano de 2013 recebeu a corda vermelha das mãos do Mestre Oscar.

Neste ano, está organizando o 13° Batizado da Escola Brasileira de Capoeira em Manila, evento em que tradicionalmente comparecem capoeiristas de toda a região asiática.


sábado, 18 de junho de 2016


             Encontro Nacional Abadá Capoeira organizado pelo Prof. Sorriso.     


quarta-feira, 15 de junho de 2016


 


Capoeira Angola-Ensáio Sócio Etnográfico - Waldeloir Rego

Waldeloir Rego, Capoeira Angola -- ensaio sócio-etnográfico,
Editora Itapoan, Salvador, 1968 - Obra publicada com a colaboração da Secretaria de Educação e Cultura do Governo do Estado da Bahia. In-8.vo de 400 páginas. Ilustrações de Hector Júlio Paride Bernabó (Carybé).
Nascido a 25 de agosto de 1930 em Salvador, Waldeloir Rego dos Santos foi uma pessoa muito culta e de atividades múltiplas. Foi professor, pesquisador, historiador, escritor, etnólogo, antropólogo, folclorista, ensaísta, artista plástico e designer de joias com temática afro-baiana.
Waldeloir Rego, que residiu no Rio Vermelho, faleceu em Salvador, aos 71 anos, no dia 21 de novembro de 2001, no Hospital Santa Isabel, onde se encontrava internado após sofrer um AVC.
Deixou uma biblioteca com 15 mil títulos, dentre eles livros raros e obras de referência na literatura afro-brasileira. Hoje, esse valioso acervo faz parte do Memorial Waldeloir Rego, instalado no 3º andar da Biblioteca Pública do Estado da Bahia, em Salvador.
O livro “Capoeira Angola - Ensaio Sócio-Etnográfico” publicado em 1968 é um dos documentos mais importantes que existe sobre a capoeira.
O livro que tem bastante informação, trás, dentre muitas outras coisas, história da capoeira e comentários sobre a origem da palavra capoeira”.
Fala também da indumentária:
...”Falar de indumentária de capoeira em termos de cor e trajes padronizados, identificando um determinado grupo, é coisa recentíssima, nascida do advento de um turismo culturalmente mal orientado, surgido na Bahia, há pouco, mas já bastante responsável pela descaracterização de muitas de nossas tradições”

Informações sobre toques e golpes:
...”Há no acompanhamento musical toques que se poderia chamar de gerais, porque são comuns a todos os capoeiristas, os quais são executados ao lado de outros que são particulares de determinada academia ou mestre de capoeira. Também acontece, e não raro, um mesmo toque, apenas com denominação diferente entre os capoeiras.”.

Há também Informações básicas sobre os instrumentos e “comentário às cantigas”.
O capítulo X “Capoeiras famosos e seu comportamento na comunidade social” fala um pouco sobre a capoeiragem do final do século XIX e início do XX no Rio de Janeiro, Recife e Salvador. Cita nomes de capoeiras do passado, como: Manduca da Praia, Nascimento Grande, Besouro e vários outros.
O capítulo XIII trata de “A capoeira no Cinema e nos Palcos Teatrais”. O Capítulo XIV sobre “A Capoeira nas Artes Plásticas”, que destaca a obra de Carybe. No capítulo XV fala-se sobre “A Capoeira na Música Popular brasileira”; e no Capítulo XVI a respeito de “A capoeira na Literatura”.

Além disso, e mais interessante para um aluno de capoeira, é a grande coleção de músicas.

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“... lançou as bases metodológicas de boa parte das análises que se seguiram, principalmente no campo das ciências humanas: sistematizou a discussão sobre as origens africanas ou brasileiras da capoeira, identificou as principais tradições e rituais, os principais portadores de sua memória oral e as principais transformações ocorridas na capoeira enquanto manifestação da cultura popular.” (Mestre Luiz Renato)




segunda-feira, 13 de junho de 2016

14° Batizado do Grupo Escola do Mundo - Mestre Alex Carcará.
Sábado, 18/06/16, às 14:30 na Escola Parque 307/308 Sul





quinta-feira, 9 de junho de 2016

CAPOEIRA NA VITROLA











LP - “Capoeira da Bahia, Mestre Traíra e Cobrinha Verde


Por volta de 1963, o ator de cinema Roberto Batalin produz um disco de capoeira com os mestres Traíra, Gato e Cobrinha Verde. Pouco tempo depois este disco foi relançado com o título “Capoeira da Bahia, mestre Traíra”.

Mais ou menos nessa época, o ator Roberto Batalin grava a capoeira de mestre Traíra com a participação de Mestre Gato, já conhecido como tocador de berimbau, e à visita do célebre mestre Cobrinha Verde. Com o auxílio de vários artistas famosos: Augusto Rodrigues, Carybé, Salomão Scliar, Marcel Gautherot, José Medeiros, e de Dias Gomes, que escreve a introdução do álbum. Roberto Batalin edita as suas gravações em LP com álbum de 16 páginas de textos e fotos, na Casa Xauã, no Rio de Janeiro. Lança assim o seu segundo disco de folclore brasileiro.

Seja porque a primeira edição tenha sido muito limitada, ou porque depois do golpe militar
de 1° de Abril de 1964, o nome de Dias Gomes, demitido da Rádio Nacional e cujas peças foram interditadas, não era bem visto, uma segunda capa, muito mais simples, logo foi produzida. Na mesma época, a J.S. Discos lança oCurso de Capoeira Regional de Mestre Bimba”; portanto ficou fácil precisar que a segunda edição do LP “Capoeira da Bahia - Mestre Traíra”, ficou, afinal, mais conhecida do que a primeira.



                                                 Arte do Álbum:

Texto de Dias Gomes

repro
primeira página do álbum.
O texto aparece em duas colunas, ocupando toda a terceira página do álbum. Este ainda traz, em uma coluna, uma tradução inglesa na 4ª página e uma tradução francesa na 6ª página.
reproCAPOEIRA é luta de bailarinos. É dança de gladiadores. É duelo de camaradas. É jogo, é bailado, é disputa -- simbiose perfeita de força e ritmo, poesia e agilidade. Unica em que os movimentos são comandados pela música e pelo canto. A submissão da força ao ritmo. Da violência à melodia. A sublimação dos antagonismos.
Na Capoeira, os contendores não são adversários, são "camaradas". Não lutam, fingem lutar. Procuram -- genialmente -- dar a visão artística de um combate. Acima do espírito de competição, há neles um sentido de beleza. O capoeira é um artista e um atleta, um jogador e um poeta.
reproÉ preciso entretanto distinguir a verdadeira Capoeira, tal como ainda hoje é praticada na Bahia, daquela que notabilizou malandros e desordeiros, em meados do século passado, no Rio e no Recife. Aqui no Rio de janeiro, a Capoeira era realmente uma luta de rua, que incluía a faca e a navalha, além dos golpes caraterísticos. Levava o pânico às festas populares e provocava a justa intervenção da Polícia. Na Bahia mesmo, por aquela época, os capoeiras andavam preocupando as autoridades da província pelas desordens que provocavam. Para ver-se livres deles, o Governo mandou-os lutar no Paraguai. E pela primeira vez a rasteira, o , a meia-lua e o rabo de arraia foram usados como armas de guerra. Com successo, a julgar pela História...

Mas a Capoeira é apenas uma vadiação -- assim a chamam os jogadores da Bahia, que ainda hoje a praticam nas festas no Bonfim e da Conceição da Praia, onde os mestres se exibem, continuando a glória de Mangangá e de Samuel Querido de Deus, capoeiras lendários.
reproTEM NOVE MODALIDADES A ARTE DA CAPOEIRA, que se distinguem pela música e pela maneira de jogar. São elas:
  • CAPOEIRA DE ANGOLA
  • ANGOLINHA
  • SÃO BENTO GRANDE
  • SÃO BENTO PEQUENO
  • JOGO DE DENTRO
  • JOGO DE FORA
  • SANTA MARIA
  • CONCEIÇÃO DA PRAIA
  • ASSALVA SINHÔ DO BONFIM
A mais praticada -- e também a mais rica em temas e coreografia -- é a primeira. Ha também a "Capoeira Regional" ou "Luta Regional Baiana", de mestre Bimba, com exertos de jiu-jitsuboxcatch, justamente repudiada pelos puristas da arte.
NA CAPOEIRA DE ANGOLA, UM RITUAL PRECEDE A LUTA: dispostos em semicírculo, os "camarados" iniciam o canto, ao som dos berimbaus, pandeiros e chocalhos. Agachados diante dos músicos, os dois jogadores, imóveis, em respeitoso silêncio. É o preceito. Os capoeiras se concentram e, segundo a crença popular, esperam o santo. Os versos do preceito variam, mas os últimos são sempre os mesmos:
Eh, vorta do mundo
camarado!
reproÉ o sinal. Girando o corpo sobre as mãos, os capoeiras percorrem a roda e dão início à luta-dança, cuja coreografia é ditada pelo andamento da música. Esta jamais é interrompida, sucedendo-se os temas, de ritmo variável, tirados pelo mestre e repetidos pelo coro. As primeiras melodias são, geralmente, dolentes -- e a luta começa em câmara-lenta, com golpes largos, onde os capoeiras evidenciam o perfeito controle dos músculos. Logo muda o toque do berimbau e o ritmo se acelera -- os jogadores mudam o jogo e as pernas começam a cortar o ar com agilidade incrível. A assistência estimula os contendores:

-- Quero ver um "rabo de arraia", Mestre Coca!
repro-- Seu menino, quer "aú"!
-- Vamo lá, meu camarado, deixa de "mas-mas" e toca uma "chibata" nele!
E não falta um farejador de defunto que diga, soturnamente
-- Eu queria ver isso mas é à vera....
A capoeira é um brinquedo. Assim, muitos golpes são proibidos, como aqueles que atingem os olhos, os ouvidos, os rins, o estômago, etc.
Mas se a luta é à vera, vale tudo...
reproO golpes mais conhecidos são:
  • O BALÃO -- com ambos os braços, o capoeira enlaça o corpo do adversário e o atira por cima da cabeça, para trás.
  • A RASTEIRA -- um raspa com uma das pernas, procurando golpear os pés do contendor e deslocá-lo.
  • O RABO DE ARRAIA -- com ambas as mãos no chão, o capoeira descreve um semicírculo com as pernas entesadas, visando atingir o companheiro.
  • A CHIBATA -- o pé cai do alto, num arco de 45 graus.
  • O AU -- salto mortal, firmando-se sobre as mãos e lançando ambos os pés para a frente.
  • A BANANEIRA, A MEIA LUA E A CHAPA PÉ -- são variações da Chibata .
reproHá ainda a CABEÇADA, o GOLPE DE PESCOÇO, O DEDO NOS OLHOS e muitos outros golpes, ou passos desse estranho e másculo ballet que os escravos bantus nos trouxeram de Angola, com sua bárbara e poderosa cultura.
É possível que a Capoeira, tal como é praticada hoje na Bahia, muito pouco deva à sua pátria de origem. Nos versos e nas melodias gravados neste álbum, sente-se a presença de nosso povo, em sua capacidade de assimilação e recriação. E a própria transformação de uma luta em um bailado, de uma contenda num motivo para cantar e dançar é muito de nossa gente...
A Capoeira é uma manifestação autêntica da índole, do espírito e do gênio do nosso povo. E com ela nós mandamos ao mundo uma mensagem: que bom se todo conflito, todo litígio, por mais violento, pudesse ser resolvido com música e poesia.
repro
páginas centrais do álbum. Reprodução de uma pintura de Augusto Rodrigues.
Créditos copilados a partir das páginas 2 e 14 do álbum e das etiquetas do disco.
reproMestreTraíra (João Ramos do Nascimento)
Lado A faixa 2Cobrinha Verde (Rafael Alves França)
BerimbauGato (José Gabriel Gões)
Chumba (Reginaldo Paiva)
De Guiné (Vivaldo Sacramento)
PandeiroPai-de-Família (Flaviano Xavier)
Quebra-Jumelo (Vanildo Cardoso de Souza)
CantoDidi (Djalma da Conceição Ferreira)
ProduçãoRoberto Batalin
FotosSalomão Scliar
Marcel Gautherot
TextoDias Gomes
DesenhosAugusto Rodrigues
Caribé
PaginaçãoJosé Medeiros (image)
Coordinação geralEditora Xauã
Pça Mahatma Gandhi 2 5.910
Telefone 43-300 Guanabara Brasil
ImpressãoArtes Graficas Palmeiras
Rua Barão de Itapagipe 60
Guanabara - Brasil
FabricaçãoCia. Industrial de Discos
Rua 29 de Julho, 169
Rio de Janeiro - Brasil
repro
Última página do álbum. Desenhos de Carybé