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CAPOEIRA NA VITROLA |
LP - “Capoeira da Bahia, Mestre Traíra e Cobrinha
Verde

Mais ou menos nessa época, o ator Roberto Batalin grava a capoeira de mestre Traíra com a participação de Mestre Gato, já conhecido como tocador de berimbau, e à
visita do célebre mestre Cobrinha Verde. Com o auxílio de vários artistas famosos: Augusto Rodrigues, Carybé, Salomão Scliar, Marcel Gautherot, José Medeiros, e de Dias Gomes, que escreve a introdução do álbum. Roberto Batalin edita as suas gravações em LP
com álbum de 16 páginas de textos e fotos, na Casa Xauã, no Rio de Janeiro. Lança
assim o seu segundo disco de folclore brasileiro.
Seja porque a primeira edição tenha sido
muito limitada, ou porque depois do golpe militar
de 1° de Abril de 1964, o
nome de Dias Gomes, demitido da Rádio Nacional e cujas peças foram
interditadas, não era bem visto, uma segunda capa, muito mais simples, logo foi
produzida. Na mesma época, a J.S. Discos lança o “Curso de Capoeira Regional de Mestre Bimba”; portanto ficou fácil
precisar que a segunda edição do LP “Capoeira da Bahia - Mestre Traíra”, ficou, afinal, mais conhecida do que a primeira.
Arte do Álbum:
Texto de Dias Gomes
primeira página do álbum.
O texto aparece em duas colunas, ocupando toda a terceira página do álbum. Este ainda traz, em uma coluna, uma tradução inglesa na 4ª página e uma tradução francesa na 6ª página.
Na Capoeira, os contendores não são adversários, são "camaradas". Não lutam, fingem lutar. Procuram -- genialmente -- dar a visão artística de um combate. Acima do espírito de competição, há neles um sentido de beleza. O capoeira é um artista e um atleta, um jogador e um poeta.
Mas a Capoeira é apenas uma vadiação -- assim a chamam os jogadores da Bahia, que ainda hoje a praticam nas festas no Bonfim e da Conceição da Praia, onde os mestres se exibem, continuando a glória de Mangangá e de Samuel Querido de Deus, capoeiras lendários.
- CAPOEIRA DE ANGOLA
- ANGOLINHA
- SÃO BENTO GRANDE
- SÃO BENTO PEQUENO
- JOGO DE DENTRO
- JOGO DE FORA
- SANTA MARIA
- CONCEIÇÃO DA PRAIA
- ASSALVA SINHÔ DO BONFIM
A mais praticada -- e também a mais rica em temas e coreografia -- é a primeira. Ha também a "Capoeira Regional" ou "Luta Regional Baiana", de mestre Bimba, com exertos de jiu-jitsu, boxe catch, justamente repudiada pelos puristas da arte.
NA CAPOEIRA DE ANGOLA, UM RITUAL PRECEDE A LUTA: dispostos em semicírculo, os "camarados" iniciam o canto, ao som dos berimbaus, pandeiros e chocalhos. Agachados diante dos músicos, os dois jogadores, imóveis, em respeitoso silêncio. É o preceito. Os capoeiras se concentram e, segundo a crença popular, esperam o santo. Os versos do preceito variam, mas os últimos são sempre os mesmos:
Eh, vorta do mundo
camarado!
camarado!
-- Quero ver um "rabo de arraia", Mestre Coca!
-- Vamo lá, meu camarado, deixa de "mas-mas" e toca uma "chibata" nele!
E não falta um farejador de defunto que diga, soturnamente
-- Eu queria ver isso mas é à vera....
-- Eu queria ver isso mas é à vera....
A capoeira é um brinquedo. Assim, muitos golpes são proibidos, como aqueles que atingem os olhos, os ouvidos, os rins, o estômago, etc.
Mas se a luta é à vera, vale tudo...
- O BALÃO -- com ambos os braços, o capoeira enlaça o corpo do adversário e o atira por cima da cabeça, para trás.
- A RASTEIRA -- um raspa com uma das pernas, procurando golpear os pés do contendor e deslocá-lo.
- O RABO DE ARRAIA -- com ambas as mãos no chão, o capoeira descreve um semicírculo com as pernas entesadas, visando atingir o companheiro.
- A CHIBATA -- o pé cai do alto, num arco de 45 graus.
- O AU -- salto mortal, firmando-se sobre as mãos e lançando ambos os pés para a frente.
- A BANANEIRA, A MEIA LUA E A CHAPA PÉ -- são variações da Chibata .
É possível que a Capoeira, tal como é praticada hoje na Bahia, muito pouco deva à sua pátria de origem. Nos versos e nas melodias gravados neste álbum, sente-se a presença de nosso povo, em sua capacidade de assimilação e recriação. E a própria transformação de uma luta em um bailado, de uma contenda num motivo para cantar e dançar é muito de nossa gente...
A Capoeira é uma manifestação autêntica da índole, do espírito e do gênio do nosso povo. E com ela nós mandamos ao mundo uma mensagem: que bom se todo conflito, todo litígio, por mais violento, pudesse ser resolvido com música e poesia.
páginas centrais do álbum. Reprodução de uma pintura de Augusto Rodrigues.
A produção | | | Texto de Dias Gomes | | | Créditos | | | Notas | | | Anexos |
Créditos copilados a partir das páginas 2 e 14 do álbum e das etiquetas do disco.
Mestre | Traíra (João Ramos do Nascimento) | |
---|---|---|
Lado A faixa 2 | Cobrinha Verde (Rafael Alves França) | |
Berimbau | Gato (José Gabriel Gões) Chumba (Reginaldo Paiva) De Guiné (Vivaldo Sacramento) | |
Pandeiro | Pai-de-Família (Flaviano Xavier) Quebra-Jumelo (Vanildo Cardoso de Souza) | |
Canto | Didi (Djalma da Conceição Ferreira) | |
Produção | Roberto Batalin | |
Fotos | Salomão Scliar Marcel Gautherot | |
Texto | Dias Gomes | |
Desenhos | Augusto Rodrigues Caribé | |
Paginação | José Medeiros (image) | |
Coordinação geral | Editora Xauã Pça Mahatma Gandhi 2 5.910 Telefone 43-300 Guanabara Brasil | |
Impressão | Artes Graficas Palmeiras Rua Barão de Itapagipe 60 Guanabara - Brasil | |
Fabricação | Cia. Industrial de Discos Rua 29 de Julho, 169 Rio de Janeiro - Brasil |
Última página do álbum. Desenhos de Carybé
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